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    O sexto monumento – em março a Velha Bota sempre fica empoeirada

    por Leandro Bittar

    No bê-á-bá do ciclismo a palavra Monumento tem lugar cativo e significado metafórico. Ela define as cinco clássicas (provas de um dia) historicamente mais valiosas do esporte. Então, atenção para a chamada: Milão-São Remo, Volta de Flandres, Paris-Roubaix, Liège-Bastogne-Liège e Volta da Lombardia.

    Podemos detalhar cada destas cinco, mas elas serão tão recorrentes aqui no Jornal do Greg que podemos deixar para depois. Prometo. O eixo aqui está na expressão Monumento. Direto do dicionário (mentira! Do Google) tiramos o seu significado: substantivo, obra geralmente grandiosa, construída com a finalidade de perpetuar a memória de pessoa ou acontecimento relevante na história de uma comunidade, nação etc.

    Ou seja, é fácil deduzir que uma Clássica Monumento é toda aquela que, na sua magnitude, transforma a carreira de um ciclista vencedor e enche de orgulho a nação que a exibe ao mundo.

    Chegamos logo de cara no entendimento mais importante de uma Monumento. Não é uma prova como as outras. Na forma, na história e no impacto que ela causa.

    Agora, quem definiu que são apenas aquelas cinco Monumentos? Aqui começa a brincadeira. Obviamente, elas não nasceram Monumentos. Foi nos anos 90,  no auge da disputa entre UCI, organizadores de prova e equipes pela criação de uma liga, um calendário mais justo e regras mais claras, que o então presidente da UCI, Hein Verbruggen, usou a expressão pela primeira vez. Isso logo foi absorvido como marketing dos eventos e se tornou a referencia ao que notamos hoje.

    A partir desta declaração espontânea, muita gente tentou teorizar e parametrizar o que seria uma Clássica Monumento (no ciclismo masculino). Notaram logo o que as cinco possuem em comum: são provas centenárias, com mais de 200 km de percurso e mais de 6h de duração. A Strade Bianche não cumpre nenhum dos três critérios. Nasceu em 2007, tem cerca de 180km de percurso médio e raramente durou mais de 5h de disputa. Se você não considera a SB uma Monumento, é nisso que você deve se apegar.

    Outras clássicas se aproximam muito mais destes quesitos, como a Gent-Wevelgem e Paris-Tours, e não buscam uma revisão do seu lugar na história. E isso piora a vida da Strade Bianche junto aos mais tradicionalistas. Mesmo com mais quilômetros e, consequentemente, mais horas de prova, ela sempre será uma garotinha quando comparada. Mas olha que curioso, no feminino, as versões da Paris-Roubaix, LBL e Flandres não precisam desses requisitos para serem Monumentos. Herdaram a fama das co-irmãs e ninguém ousa questionar.

    O motivo é muito simples e enche os pró-Monumento de esperança. Porém, para isso voltamos ao dicionário, ops, ao Google. O que vai definir o futuro das clássicas não é substantivo. São os adjetivos. Um Monumento do Ciclismo é uma Clássica Monumental, ou seja:

    1. concernente a ou próprio de monumento;
    2. que mostra admirável singularidade; magnífico, maravilhoso;
    3. de grande importância, relevo, valor;
    4. de grande dimensão; grandioso, colossal.


    A Strade Bianche, com seus (1) singulares e maravilhosos trechos no ‘sterrato’ toscano, seu final magnifício na Piazza del Campo, em Siena e (2) sua coleção – ano após ano – de memoráveis disputas entre os melhores ciclistas do mundo é indiscutivelmente Monumental. É impossível assistir ao ataque de Mathieu Van der Poel na edição de 2021, diante do campeão mundial Julian Alaphilippe e do então vigente campeão do Tour de France Egan Bernal  sem notar a grandiosidade dessa prova.

    O ciclismo é muito tradicionalista com seus termos. Eu sou do time que acha que a Strade Bianche não é uma Monumento. Se você reler o início do texto, ela ainda não muda a carreira de um ciclista. Ao mesmo tempo, é notório o orgulho italiano e como ela encanta mundialmente. Nesse sentido, me sinto na primeira fila vendo a história ser escrita. A Strade Bianche não é uma Monumento. Ainda não. E isso só um substantivo. Ela não é uma prova igual as outras.

    Aqui um link para acompanhar o percurso, start list e demais infos sobre as provas no sábado: www.strade-bianche.it/en

    A melhor forma de acompanhar a edição 2022 é com o App da GCN.

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