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    O Inferno “Tech” do Norte

    Por Leandro Bittar

    A Paris-Roubaix esse ano terá 257km de extensão. Quase 1/5 disso (54,8k) estará distribuído em 30 setores de paralelepípedo que dão o charme e o ritmo da prova. VEJA AQUI Para quem assiste é um encanto. Para quem pedala é um inferno. É uma prova brutal. E uma das poucas na qual completar tem muito valor para a carreira de profissional. A chegada no Velódromo de Roubaix exibe junto com o troféu em forma de pedra, ciclistas exaustos, enlameados, empoeirados, que contam as bolhas nas mãos e as lembranças que carregarão para sempre.

    É curioso que um ambiente tão raiz seja também tão tecnológico. Fora o Tour de France, a Paris-Roubaix é o dia do ano em que mais pipocam novidades sobre os equipamentos. Chega ao ponto das marcas desenvolverem bicicletas que serão usadas pelos profissionais exclusivamente nesta data. Mas, muitas destas novidades são também invencionices e adaptações criadas com um objetivo bem claro: conciliar o máximo de conforto com performance.

    Legenda: a aposta da equipe é ter até 20% de ganho de performance nos trechos de asfalto.

    Para este ano, o grande hit é a expectativa em torno do equipamento de controle de pressão dos pneus que a equipe holandesa DSM usará na prova. Enquanto mundo afora ainda se acreditava nos pneus com 120 psi, em Roubaix já era claro o uso de pneus muito menos “duros”, na garantia de melhor performance e mais conforto, principalmente nos trechos de pavès.

    O Atual campeão não vai defender o título após descobrir um problema cardíaco.

    Aqui, me permita um depoimento pessoal. Quando eu fui cobrir a prova em 2012, ali no ambiente pré-largada, parei para fotografar o encontro dos ex-companheiros de equipe HTC George Hincapie e Bernard Eisel. Naquele momento, Hincapie estava na BMC e Eisel na Sky. Em seguida ao aperto de mão, Hincapie deu uma “dedada” no pneu da Pinarello de Eisel e (!) quase tocou o fundo do aro. Eu tomei um grande susto. Não devia ter 60 psi.

    Voltando ao equipamento da Scope Atmoz, usado pela DSM, ele promete alternar até 50% a pressão entre os trechos de asfalto e de paralelo. Vai variar facilmente do “Eisel” ao mais próximo do dia-a-dia do pelotão. Se isso vai ser suficiente para um bom papel do time que está devendo muito nestas duas últimas temporadas? Veremos

    Em 2012, no ano do tetra do Tom Boonen, notem a bike do segundo colocado, Sebastien Turgot (dir.): freios cantilever e manete extra.

    Entre ciência e superstição, o pelotão aplica uma série de táticas para ganhar um mínimo de conforto extra. Nicolas Sessler e Rafael Metzger falaram muito sobre em um podcast especial da Gregario que você pode ouvir aqui. As rodas Ambrosio, os pneus FMB, o gel no guidão, as duas camadas de fita, os câmbios no guidão, os freios cantilever. Uma infinidade de apostas que placebo ou não, fizeram a diferença ao longo dos tempos.

    Quando algo é usado pelo campeão, logo todo mundo adere, como Tchimil em 1994.

    E quando falamos “ao longo dos tempos” é preciso ser claro que os anos noventa foram muito mais criativos e soltos nesse sentido. Durante 3 anos consecutivos, pasmem, as bicicletas usaram suspensões dianteiras muito parecidas com as das mountain bikes, adaptadas para terem o mínimo de amortecimento possível, por mais contraditório que isso soe. O francês Duclos-Lasalle ganhou duas edições assim e em 1994 vários ciclistas do pelotão aderiram naquela que vai ser lembrada como a mais enlameada edição da Paris-Roubaix. Inclusive o vencedor, Andrei Tchimil usou uma Rock Shox. Já o “Leão de Flandres” Johan Museeuw fez a prova com uma road Bianchi Full Suspension.

     

    Décadas depois, as coisas ficaram menos escancaradas, mas algumas marcas voltaram a oferecer amortecimento no quadro, como a Cannondale-Saeco, a Trek do George Hincapie, famosa por ter quebrado a espiga (cena antológica que você pode rever aqui, tinha uma ‘suspensão traseira’, que depois inspirou a Pinarello K8S, da equipe Sky. A Specialized Roubaix também tem um sistema de amortecimento dianteiro, ‘FutureShock’, sendo o exemplo de equipamento usado na Paris-Roubaix que melhor encontrou eco no mercado consumidor como um modelo de endurance.

    A equipe dos ganhos marginais apostou na suspensão traseira por um período, até com um acionamento eletrônico, mas abriu mão da tecnologia.

     

    Na última edição, a tecnologia não roubou tanto a cena e as novidades giraram muito mais em torno dos tipos (tubeless) e larguras dos pneus. Neste domingo vamos ver como a história será contada. Será que teremos uma surpresa como o canote retrátil do Matej Mohoric na Milão-São Remo? Um motivo a mais para não perder a transmissão de jeito algum. As provas vão passar na ESPN, no Star+ e também na GCN. Feminino é no sábado, a partir das 8h30. E a prova masculina é domingo, iniciando a transmissão 9h45, sempre próximo da passagem pela Floresta de Arenberg.

     

     

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