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    Gambiarra tem limite?

    Do nada, no meio de um pedal normal, você passou em um quebra molas e a sua garrafinha saiu voando. Curioso, mas você já havia percebido que ela estava meio bamba mesmo.

    Buscou a tal garrafinha voadora, agora com alguns ralados, colocou de novo no suporte e aproveitou para conferir o motivo daquele salto ornamental.

    O suporte está quebrado. Dá pra chegar até em casa? Claro que sim, basta passar mais devagar nos próximos quebra molas e depois dar um jeito na avaria.

    Essa história aconteceu comigo nos meus primeiros meses de pedal, onde eu ainda não me conformava em gastar tanto dinheiro com bicicleta e principalmente, não tinha dinheiro nenhum para isso.

    Nem passou pela minha cabeça a possibilidade de trocar aquele suporte de caramanhola por um novo, que na época devia custar algo como 15 reais.

    Minha dúvida era se eu usaria durepóxi ou araldite para juntar de novo as hastes que haviam se rompido.

    Não me recordo qual foi a escolha, mas lembro que o suporte remendado à base dos vastos conhecimentos da gambiarra voltou a funcionar e parou de fazer o barulho que até então eu nem tinha tomado nota que vinha dali.

    Acontece que o suporte ficou um pouco empenado. Capenga – na linguagem dos gambiarristas.

    A haste que recebeu o remendo ganhou alguns milímetros a mais e desbalanceou o conjunto, acredito.

    Continuei ignorando a possibilidade de comprar uma peça nova.

    E o mesmo eu fazia com todas as peças da minha bicicleta. Quando um pneu rasgava, eu não pesquisava os preços de um pneu novo, mas começava a perguntar para os amigos se era possível costurar ou fazer um remendo interno.

    Minhas câmaras de ar pareciam uma cobra coral, de tanto remendo que tinham (naquela época o tubeless ainda estava engatinhando).

    Lacres plásticos (aqueles enforca-gato) eram o prato principal que a minha bike consumia todo dia.

    Vou ainda mais longe no que diz respeito a segurança e economias porcas que fazia com a bike:

    Folgas nos rolamentos, central e pedivela eram vistos por mim como algo natural, que não me faziam colocar a mão no bolso e gastar o dinheiro que eu não tinha. Eu era um gambiarrista nato – e as vezes porcalhão.

    Naturalmente, hoje sou um militante contra este tipo de descaso.

    Em outros textos, já expliquei os efeitos cruéis que temos na pilotagem e segurança de nossas bikes quando ignoramos itens como estes. Precisamos cuidar das nossas bikes e investir um dinheiro mínimo em nossos equipamentos para que eles sejam saudáveis e nos proporcionem segurança e diversão. Não é divertido ter que frear em cada quebra-molas por que a sua garrafinha pode sair voando, concordam? Não é divertido ser um gambiarrista/porcalhão.

    Mas lembro com muito carinho dos meus anos de mecânico de durepoxi, araldite e lacres plásticos. Foram momentos que me ensinaram o valor e a importância que cada peça tem.

    Experimentei cada suporte empenado, pneu costurado e lacres plásticos espalhados pela bicicleta inteira. E sabe que, mesmo cometendo mais erros do que acertos, eu conseguia pedalar seis vezes por semana – gastando bem menos dinheiro do que hoje. E aprendi um monte com isso.

    A minha conclusão aqui é dupla:

    1 – Cuide da sua bicicleta e faça as manutenções necessárias, não utilize equipamentos e acessórios que possam comprometer a sua segurança e diversão. Em resumo, diga não à gambiarra.

    2 – Ao mesmo tempo, aprenda a conversar com a sua bicicleta e, se você não tem os recursos suficientes, pedale de qualquer jeito, mesmo que seja na base do improviso. A melhor bicicleta é a que você tem. Não deixe de pedalar por que não consegue comprar uma full de carbono, nem por que não consegue comprar um suporte de garrafinha novo – mesmo que isso implique em voltar para buscar a garrafinha que saiu voando ou precise passar mais lento nos quebra molas.

    Não, a gambiarra não tem limites, desde que você a pratique dentro da sua demanda de necessidades.

    Quem tem uma full de carbono do ano, geralmente tem uma graninha sobrando para substituir um suporte de garrafinha quebrado ou um pneu que rasgou. Mas se você está nos seus primeiros anos de pedal, ainda batalhando com a primeira bike e passando aperto para se inscrever nas provas locais, a minha dica é uma só: adaptar, sempre. Ficar parado, jamais!

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