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    Eu nunca vou usar aro 29

    Por Breno Bizinoto

     

    Parece que foi ontem, mas já fazem mais de 10 anos. 14 anos, talvez. Tentaram me enganar, junto com toda aquela multidão. E toda a boiada de fanáticos parece que, sedenta por novidade, caiu naquela armadilha do mercado.

    Na época, nos bombardeavam com um novo tamanho de roda. Aquilo era perfeito para enganar os ciclistas (leia-se consumidores) mais exaltados. Estratégia bem bolada, pois quem acreditasse naquela enganação estava obrigado a trocar toda a bicicleta, ou no mínimo, quadro, suspensão, aros, raios, pneus e câmara de ar. Logo descobrimos que o guidão também precisava ser trocado.

    Quanta gente converteu as suas bikes, comprando todas essas peças, ou simplesmente comprando uma bike nova, por completo.

    Quanto dinheiro jogado fora.

    “Aro 29 é enganação” – Escutei de um profissional que explicava sobre a inércia, a física e a dificuldade de retomadas em acelerações.

    “Esse povo tá colocando gente de 1,60m para andar de aro 29! Que loucura” escutei de um baixinho.

    Os argumentos eram todos muito claros, era questão de física. E o peso que a bicicleta ganhava? Por sorte existia uma grande classe conservadora que nos explicava todos esses problemas. E o pior de todos: quem caiu no conto dos aros 29 virou um dos revolucionários que acreditou em toda a propaganda do mercado. Ainda bem que eu permanecia com os aros 26, totalmente ágil e leve.

    Após algum tempo, surgiu a terceira via. O aro 27,5 prometia o meio termo ideal naquela discussão que parecia não acabar nunca. Compramos a briga, mas sem comprar o aro 27,5. Na verdade, quase ninguém comprou o aro 27,5. Ainda precisávamos estudar um pouco mais. A raiva que tínhamos pelo aro 29 era tão grande que, ainda ostentávamos os 26, cada vez em um grupo menor.

    Logo começou o bulling, com fanfarrões que apareciam nas copas do mundo levando cartazes com piadas sobre os aros 29, levantando a polêmica de novo. As fotos rodaram todos os grupos. Já tinha virado chacota. Quem caiu nessa enganação? Praticamente todos. Uma piada pronta.

    Até que, muito breve, o mesmo atleta profissional que explicava sobre os problemas físicos e matemáticos do aro 29 apareceu com uma bike nova – de aro 29. Nem 27,5 ele quis pra amaciar. Inacreditável.

    Pouco depois, o atleta de 1,60 também estava lá, exibindo as rodonas.

    E pouco depois era eu – de aro 29 – que precisei de um tempo para assumir: essa bike realmente é melhor que a outra. É como se escorresse uma lágrima no momento da conclusão.

    Não, isso não é um texto para discutir sobre as medidas de aro. É para discutir sobre o nosso medo de inovar quando o assunto é tecnologia. Argumentos como “Isso é modinha”, “Money talks” ou até bulling em formato de cartaz nas copas do mundo sempre existiram na concepção de todas as tecnologias.

    Doze velocidades, freio a disco, freio hidráulico, tubeless, freio a disco na road, câmbios eletrônicos, canote retrátil e vários outros – todos eles, sem nenhuma exceção, foram taxados como modismo ou problemáticos pelos que temem a mudança. E todos eles, também sem nenhuma exceção, foram homologados e provaram que realmente são tecnologias boas.

    E quem achava legal dizer que não se entregava à moda dessas novas tecnologias, hoje finge que nada aconteceu e por fim acabou pagando língua. O grande mérito ficou com quem conta o outro lado da história: o primeiro a usar aro 29, o primeiro a usar freio a disco, o primeiro a acreditar nos canotes retráteis.  Esses sim carregam o mérito da inovação e fizeram história.

    Anota aí para a próxima vez que surgir uma tecnologia duvidosa: ganha quem larga na frente.


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