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  • Esse não é um texto sobre os 2% que você conhece do ciclismo profissional

    Esse não é um texto sobre os 2% que você conhece do ciclismo profissional

    Por dentro do Pelotão

    por Nícolas Sessler

    Quando eu falo sobre a vida em uma equipe de ciclismo Profissional, provavelmente, a primeira coisa que vem à sua mente são aquelas estruturas grandiosas, com carros novos e milhares (até milhões) de reais no teto em bicicletas; ônibus customizados para atender as necessidades dos ciclistas; caminhões repletos de rodas e material; hotéis luxuosos com seus cozinheiros e dietas especialmente preparadas; treinadores, fisioterapeutas, nutricionistas e técnicos planificando todo o calendário, treinos, viagens e vida dos atletas. Tudo fluindo com extremo cuidado, atenção e perfeição para que o planejamento ocorra de maneira harmônica em busca da melhor performance.

    As grandes equipes investem cada vez mais na estrutura ao redor do ciclista

    Bom…a verdade é que a realidade de 98% do pelotão profissional europeu não é bem essa. Glamour, luxo, planejamentos e treinos com uma periodização estruturada pertencem à realidade daqueles poucos ciclistas que vão às grandes provas World Tour como “líderes”. Os “deuses do Olimpo”. São os “Pogacars”, “Van der Poels”, “Van Aerts”, “Froomes” e “Valverdes”. Para todos os outros, temos que aprender a viver em constante adaptação e reajustes entre viagens, mudanças de calendários, estratégias e interesses.

    Nota do Editor: O Service Course da Jumbo-Visma é a exceção que o Nicolas cita. É coisa de maluco! Veja aqui.

    Confesso que nos meus primeiros anos no ciclismo profissional me custou muito adaptar e entender essa realidade “pouco profissional”. Oriundo do MTB, onde os atletas têm muito mais controle sobre seus calendários, planejamentos e objetivos, para mim, era inconcebível competir com os melhores do mundo sem nem saber exatamente quais provas iria competir ou não! “Mas como posso me preparar e treinar para algo que não sei se ocorrerá!?”. Muitas vezes acabava indo a uma competição já “derrotado” por simplesmente não sentir que havia me preparado de acordo ou por saber que tinha treinado demasiado e deveria estar descansando naquele período.

    Se você acha que eu estou exagerando, não foi nem uma nem duas, foram várias vezes que eu vivenciei companheiros de pelotão em grandes equipes World Tour receberem 3 ou 4 bilhetes de avião no mesmo dia, cada um com um destino diferente. “Você irá ao Tour da Eslovênia. Não! Mudamos de ideia, você fará as Clássicas Belgas nessa semana e logo depois Dauphiné. ESPERE! Finalmente, o fulano está doente, você irá para a Volta da Suíça!”.

    A vida de viajante já foi tema para as ilustrações do Gregario Cycling

    Um longo período de aprendizado e amadurecimento foi necessário até entender que essa era a realidade de praticamente todos os meus companheiros e adversário de pelotão. Aprender a viver sabendo que por mais que queiramos, nem todos os detalhes da vida estão sob nosso controle. Não deixar que isso nos cause ansiedade é uma arte que leva tempo para ser dominada. Planos mudam, falhas acontecem, desastres ocorrem e temos sempre que aprender a nos adaptar às novas realidades.

    O aeroporto é sempre um habitat do ciclista profissional

    Escrevo este texto mais uma vez de algum aeroporto pelo mundo, na correria de arrumar as malas e sair para uma viagem que não esperava. Estava “tranquilo” de “férias” em casa quando há apenas 3 dias recebi a notícia de que participaria da Volta da Turquia a partir do próximo domingo, dia 10/4. Serão 8 dias de competição junto aos melhores e maiores equipes do mundo (Bora, UAE, Lotto, Astana, DSM…). Minha preparação foi “perfeita”? Talvez não, mas com toda certeza não foi pior, nem melhor do que a dos meus adversários. Assim que… Bora pra cima deles Brasil!

    O brasileiro já correu na Turquia em 2018

    Confira o start list e os detalhes da prova que terá transmissão ao vivo pela GCN aqui. Turquia e seu famoso prêmio “Bananeira” marcou o renascimento do Cav em 2021

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