• Início
  • Journal
  • Enduro: Procura-se vivo ou morto
  • Enduro: Procura-se vivo ou morto

    Enduro: Procura-se vivo ou morto

    Não fui eu quem falei que o enduro morreu. Na verdade, quase tudo que eu trago pra debater aqui nessa coluna – em formato do bom e velho texto escrito, diferente das alegorias e aleatoriedades das redes sociais e seu algoritmo psicodélico/“psicanálico” – é de boatos e ideias (absurdas ou não) que escutei por aí.

    Geralmente os escuto em eventos de bike, transmissões ao vivo ou por que não, em tímidos comentários da tal rede.

    Falo aqui que o enduro morreu – em uma espécie de plágio ou releitura da frase original – me perdoem se fui ofensivo com o suposto falecido ou seus entes queridos.

    Vou tentar fazer o meu próprio arranjo dessa música tão triste, com o intuito de não ser uma cópia.

    A verdade é que a tal modalidade em ascensão desde 2012 (data controvérsia) nunca atingiu eventos com números estratosféricos. Uma competição de enduro com 300 atletas era um tipo de recorde (considerando o cenário nacional).

    Nunca ouvi falar de um evento dessa modalidade que tivesse 2 mil atletas, como acontece em um Iron Biker. É claro, a modalidade ainda era nova. É claro que logisticamente é mais difícil largar tanta gente com 30 segundos entre cada um.

    Apesar disso, o mercado de enduro cresceu bastante. Vendeu bastante bermudão, vendeu bastante bike, criaram-se muitos eventos, novas marcas e comunidades. Inclusive, várias modas e tecnologias que surgiram no Enduro foram posteriormente abraçadas pela turma do XC.

    Muitos do XC criticaram os canotes retráteis e as suspensões com curso maior do que 100 mm, mas logo estavam copiando.

    Ainda vou mais longe: o enduro cresceu tanto que acabou derrubando a cena do downhill. Quase todos os prós do DH migraram para a nova modalidade (tida como mais versátil, mais divertida).

    E agora, depois de tanto crescimento, paralelo à uma grande crise de mercado, acontece o inesperado: o enduro morreu.

    Não tem mais eventos, não vendem mais aquelas bikes de 160 mm ou mais... O downhill voltou a ter mais adeptos. Alguns endureiros foram para o XC (ou simplesmente voltaram para lá).

    O fenômeno “bikes elétricas” pode ser o suspeito numero um pelo assassinato em questão. Afinal, bikes de enduro se diziam quase tão boas quanto as de DH para uma descida, mas fazendo o possível para que a subida – não cronometrada – ficasse mais confortável.

    Ora, se a subida não vai ser cronometrada e você quer relativa facilidade nela, por que não colocar um motor nessa bike que já “mais pesada”? É como um “lift” portátil.

    Pouco antes de o enduro dar seus últimos suspiros, era notório como os eventos dessa modalidade tinham 90% dos atletas inscritos nas categorias de e-bike. Em resumo, era praticamente uma prova dedicada às bikes com motor.

    Escutei um cara falar: “Meu irmão é muito burro. Comprou uma bike feijão de 40 mil reais.”

    “Feijão” significa que é uma bike convencional, sem motor.

    O que esse cara quis dizer é que não vale mais a pena (na opinião dele) gastar tanto dinheiro em uma bicicleta que não te ajuda nas subidas. Polêmicas a parte, você tem total direito de achar que a parte mais legal em pedalar uma bike é a propulsão humana e fazer força nas subidas.

    Mas convenhamos que, o enduro nem cronometra as subidas. Esse esporte já nasceu com o conceito de lutar no morro abaixo, não acima. Até por isso, as competições mais bem estruturadas costumavam oferecer pelo menos um deslocamento de carro ao longo da prova.

    A bicicleta elétrica resolveu esse problema do endureiro, que nunca esteve muito afim de decidir as coisas na subida. E ao mesmo tempo, a bicicleta elétrica matou o enduro.

    Matou por que, não faz mais sentido comprar uma bike de enduro aspirada (ou feijão). Se o intuito do cara é fazer um monte de descidas no mesmo dia, a elétrica é de fato uma ótima solução para o que ele procura. Soa como um tiro pela culatra.

    Porém, essa movimentação natural do mercado e do surgimento de novas tecnologias abriu um novo leque: ao mesmo tempo que cessaram-se a venda das bikes de enduro (as aspiradas), explodiram-se as vendas das bikes elétricas (que tem a mesma robustez das bikes de enduro, no geral).

    As roupas do endureiro continuam na praça, agora sendo vendidas para os caras das e-bikes. Joelheira, capacete fechado, sapatilha de enduro, tudo continua em alta fabricação.

    Os eventos estão passando por reformulação. E nas novas provas que começam a aparecer, exclusivas para e-bikes, uma novidade interessante: as subidas passaram a ser cronometradas. Os caras que compraram bike elétrica para fugir de subidas, estão curiosamente fazendo força ladeira acima – bem mais do que na época que corriam provas de enduro com a aspirada/feijão.

    Parece confuso e realmente é. Peço desculpas por mais uma vez trazer um cenário caótico sem nenhuma conclusão politiqueira que finge propor solução – afinal, não é assim que funciona.

    Levantei a bola de uma modalidade que morreu na certeza de que muito ainda vai se modificar nesse cenário. Ou não. Na verdade, não sei. Foi só um boato que escutei por aí.

    Compartilhe este post

    Deixe um comentário