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    Ciclocross é um presente

    Por Leandro Bittar

    Enquanto todo mundo já conta os dias para o final do ano e faz planos para 2022, uma galera computa ansiosamente cada minutos que antecede o período entre o Natal e o Réveillon. Mas não é para viajar ou algo do tipo. É a expectativa para os próximos capítulos da temporada 2021-2022 de Ciclocross, que já está embalada desde outubro e ganhará, enfim, o primeiro embate entre os seus maiores nomes da atualidade: o belga Wout Van Aert, o holandês Mathieu Van der Poel e o britânico Tom Pidcock.

    Pidcock chega motivado pela vitória na etapa da Copa do Mundo de Rucphen no último final de semana

    O novo encontro do trio será no dia 26/12 para a disputada da etapa da Copa do Mundo de Dendermonde, na Bélgica. Acompanhe todo o calendário da CM.

    Isso vale muito a sua atenção, mas antes vamos fazer uma pausa estratégica e te explicar porquê vale a pena se ligar. Que raios de esporte é o Ciclocross? É ciclismo de estrada? Não. Mountain Bike? Hummm, não. Ah, surgiu com o Gravel? Até tem algumas semelhanças. Mas, não! Nada disso.
    De uma forma simplista, o Ciclocross é uma modalidade quase tão antiga quanto o ciclismo de estrada. A história diz que foi criada meio por acaso, quando ciclistas cortaram caminhos nos treinos e acharam aquilo divertido. Para contextualizar, o campeão do Tour de France de 1910, Otavio Lapize, atribuiu seu título ao tempo dedicado pedalando na lama do ciclocross.

    As disputas têm uma dinâmica similar a uma prova de Mountain Bike XCO, em circuito, normalmente com um limite de tempo. A diferença é que há obstáculos realmente criados, como escadas e pequenas barreiras.

    Wout van Aert carrega a bicicleta na neve de Val di Sole/Itália

    Em um primeiro olhar, as bicicletas se assemelham às de estrada. Mas além dos pneus com cravos, geralmente elas têm uma geometria mais reativa (os eventos são mais curtos e dinâmicos) e, veja você, elas mantêm o triângulo principal do quadro mais “tradicional” com uma peculiar necessidade de ser fácil de carregar nos ombros. Exatamente. Muitas vezes o terreno exige que o ciclista corra com a bicicleta por escadas, areia fofa ou, simplesmente, um trecho tão enlameado que é impossível montá-la.
    Mas qual motivo faz o ciclismo de estrada ser tão popular e o ciclocross não? Resposta difícil. Mas duas características são muito peculiares e podem ser indícios: originalmente, as provas são disputadas no inverno, na pausa da temporada do ciclismo de estrada. Além disso, são muito identificadas com os belgas e holandeses.

    O holandês Mathieu Van der Poel e o belga Wout van Aert: uma rivalidade que rompe fronteiras

    “É um esporte flemish”, resumiu recentemente para a Gregario o belga Johan Museeuw, um dos maiores classicômanos da história, (só) 3x campeão da Volta de Flandres e da Paris-Roubaix. Ele começou no ciclocross e durante muito tempo, já profissional consagrado, manteve a forma durante o inverno correndo nesse tipo de evento.

    Curiosamente, essa estratégia é apontada como a razão do sucesso de muitos estradeiros atuais e tem feito muita gente repensar suas pausas de final de ano em busca do ganho de habilidade e agilidade obtido com os eventos de ciclocross.

    Anquetil e Poulidor, uma rivalidade francesa nas estradas e no ciclocross

    Voltando aos grandes nomes, eles têm um papel relevante no interesse que a modalidade tem alcançado. É nítida a evolução, inclusive aqui no Brasil, onde as provas inexistem, mas, surpreendentemente, a evolução do Gravel fez aumentar a oferta de bikes de ciclocross no mercado nacional, dando esperanças de que um dia possamos ter eventos desse tipo por aqui. Apesar de ser antigo e ter sido disputada por grandes nomes do passado como Anquetil, Merckx e Ulrich é a rivalidade entre MVDP e WVA que coloca a popularidade hoje em outro nível.
    E não se enganem pois o feminino também é muito emocionante e a campeã mundial Lucinda Brand, recentemente, recusou correr a 1ª edição da Paris-Roubaix feminina, de olho nos prêmios mais polpudos que o ciclocross oferece (mas aqui tem uma longa história que não abordaremos hoje).

    É baseado nisso, que o ciclocross procura seu espaço. Desde 2014, os organizadores miram nos Jogos Olímpicos de Inverno. A recente etapa da Copa do Mundo em Val di Sole, na Itália, disputada na neve, foi um reforço do potencial que esse evento tem. Mas, por enquanto, ainda é muito “flemish”. Por enquanto.

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