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    A la Super Mario, só que não é do kart, é o da bike.

    por Leandro Bittar

    O folclórico jogador de futebol Dadá Maravilha cravou que “não existe gol feio. Feio é não fazer o gol”. Eu sempre lembro dele quando penso na relação dos velocistas com a vitória. Assim como um atacante no futebol, o que vale é passar em primeiro. É a “bola na rede”. Partindo desse princípio, os números são tão relevantes quanto o que se vence. Não é raro o ciclista passar um período sem vencer e depois da primeira engatar uma bela sequência. E é essa confiança que traz as grandes conquistas. 

     

    Mario Cippolini em ação, o Super Mario, um dos mais icônicos sprinters da história.

    No Gregario Radio dessa semana OUÇA AQUI, conversei com o craque Nicolas Sessler sobre o futuro dos velocistas. As equipes precisam deles, claro, é mais fácil vencer uma etapa do que uma grande volta. Os velocistas mantêm os times no noticiário. E olha que não faltam bons nomes, inclusive numa nova geração que desponta. Porém, o cenário não é tão promissor assim para que eles repitam os feitos de outrora. E sem isso, conquistarão nossos corações?

     

    ALESSANDRO PETACCHI 

    Voltando aos números, é difícil imaginá-los tendo a chance de ultrapassar uma espécie de “número mágico”, a marca de 20 vitórias na temporada. Façanha que quatro lendas conseguiram na primeira década dos anos 2000: os alemães Erik Zabel e Andre Greipel, o italiano Alessandro Petacchi e o britânico Mark Cavendish. Depois deles, Peter Sagan (2014/22) e Alexander Kristoff (2015/20) também chegaram lá. E alargando um pouco o funil e reforçando a tese, desde então, só Elia Viviani passou das 15, foram 18 em 2018. 

     

    Tá, Bittar! Você tá falando de qualquer prova. E as grandes provas? Meu caro, qualitativamente esses números também não devem se repetir. Pode ser ainda pior. Quem viu Alessandro Petacchi ganhar 9 das 21 etapas do Giro d’Italia de 2004, viu. Se você não viu, procure no youtube. Ao vivo, nunca mais. Outro feito muito pouco provável é um velocista como Mario Cippolini (57) ou Mark Cavendish (52) ultrapassar durante a carreira 50 vitórias de etapa nas três grandes volta: Giro, Tour e Vuelta. 

     

    Isso conecta ao tema do podcast. Pois, não é uma questão de uma geração ruim. Mesmo com esses números absurdos, sempre teve espaço no passado para competitividade e vários outros velocistas estiveram no páreo. Robbie McEwen, só pra citar um. A mudança maior está na estratégia das equipes. Com a redução no número de ciclistas por prova, boa parte delas precisou abdicar dos velocistas e, antes disso, comprometer os trens de embaladores. Com duas vitórias neste início de temporada no Saudi Tour, o holandês Dylan Groenewegen precisou deixar a Jumbo-Visma (em comum acordo) para ter mais oportunidades nos grandes eventos. Na Arábia Saudita também teve vitória do Caleb Ewan. Outro nome que luta pelo protagonismo nos sprints.

    DYLAN GROENEWEGEN

     

    Soma-se a isso, uma sensível redução no número de provas no calendário europeu e uma escolha dos organizadores, visando o espetáculo, de reduzir as chegadas massivas com a inserção de pontos de ataque ou finais em subida. Por mais que isso não evite o sucesso, mas exija mais versatilidade, como demonstrou Bryan Coquard (Cofidis) em um duro final da segunda etapa na francesa Etoile de Bessèges.


    BRYAN COQUARD

    Ter uma equipe devota faz muita diferença e esse argumento é bem fácil de demonstrar com a análise dos velocistas que passaram pela Quick Step. Com bons embaladores, como Fabio Sabatini, Max Richezze e, principalmente, de Michael Morkov, todos os grandes nomes viveram seu melhor momento por lá. Gaviria, Kittel, Cavendish, Viviani, Sam Bennett. Exceção para o Kittel, aposentado, todos ainda lutam por vitórias e pela confiança.  

    FABIO JAKOBSEN

     

    Hoje na Quick Step, Pat Lefevere insiste que o velocista número do time é o holandês Fabio Jakobsen, que não desperdiçou a chance (e o trabalho de Morkov) para começar o ano com duas vitórias na Volta da Comunidad Valenciana. Já Mark Cavendish começou nesta quinta-feira sua 16a temporada como profissional no Tour de Omã como o #2 da equipe. *E lembrem do que eu disse no primeiro parágrafo. Não existe vitória feia. Ele já garantiu mais uma no currículo.*

    MARC CAVENDISH, literalmente o renascimento de um monstro do nosso esporte.

    E você, me diz ai, por onde andam os super sprinters? Eu só vejo um no Oriente Médio, por enquanto. 

     

    *Com 157 sucessos na carreira (uma média incrível de quase 10 por ano), ele inicia no Oriente Médio a soma das sete conquistas que podem torná-lo o velocista com mais vitórias absolutas*, ultrapassando até Rick Van Looy (velocista também, mas em outra prateleira, muito mais completo e vencedor das 5 Monumentos). Se chegar lá, Cav só ficaria atrás de um sprinter, escalador, classicomano, contrarrelogista e voltista inigualável, Eddy Merckx. O belga tem 283 vitórias profissionais e esse é outro feito impossível de ser igualado no ciclismo moderno.

     

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